26 de julho de 2009

a garoa, a vidraça, você


A vidraça pouco aberta e os resquícios de gotas respingando gelados em meu corpo.

Essa chuva fina, de poucos alívios que claramente corrompe os compromissos de um domingo de Sol. Essa chuva fina e de poucas palavras, chuva que quando contra a luz, produz incessantes traços e sem luz não passa de um som. O som das rodas molhadas dos carros passando velozes na avenida livre, o som das gotinhas unidas acumuladas nas folhas do Ipê indo contra o chão, o som dos galhos se espancando sem sentido, o som que a rua vazia produz e o som que o vento traz aos meus ouvidos, um som gelado. As gotículas de água debruçadas uniformemente sobre a janela e um sopro gelado que esfria os meus braços descobertos, junto ao sopro quente do doce de abóbora que lembra o meu passado.

A chuva clareia as idéias de uma mente seca e recorda chuvas em que não estava só. Lembro do seu pezinho sobre o sofá, macio, de tua santa delicadeza comover-me como sempre, comover-me quando escrevo e comover-me enquanto chove. E agora chove. Comovido, lembro da primeira vez em que te vi com olhos incomuns, seus olhos incomuns, incomuns como a chuva que cai agora, sem força ou forma alguma, sem brilho e sem direção, com gotas que tropeçam em gotas e se unem, a chuva que destruíra os sonhos de um domingo divertido, não para mim. A chuva que, garoa fina sobre a vidraça entreaberta da minha sala.

As doses de um álcool imaginário, tragadas de um ar puro me consomem, me entrego imediatamente aos vícios: pensar, escrever e consumir tudo, exceto coisas que viciam. Consumo algo para relaxar e assim busco pensar em você, consumo algo para me aquecer e lembro o que de fato sempre me aqueceu, consumo perfumes enquanto seu cheiro ainda permanece em minha camiseta, consumo altas doses de acordes e todos soam nossas músicas, consumo, consumo e consumo, enquanto o meu único vício real é você. Descubro que não tenho vícios, apenas não te tenho mais.

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