O meu corpo repousa sobre a quina pontiaguda da banca de jornais. O farol fechado permite que a velha que avisto longe caminhe até que supostamente esperássemos abrir o mesmo semáforo. O verde dos pedestres visa que em poucos segundos abandonemos a margem do lado que saímos para cumprirmos o objetivo de atravessar a rua. O amarelo ao meu ver nunca visou nada. O vermelho é um teste aos motoristas que ruborizam as faces de calor e impaciencia. A rua ocupa, de forma transversal, o mesmo que ocupariam 3 carros de porte médio enfileirados, ou de quinze a dez passos curtos de um jovem. As riscas da faixa de pedestres bem nítidas, recentemente repintadas, o contrario do grande ferro enferrujado, que da base a toda estrutura do semáforo.
O farol sorve o tempo que sorve o suor que de tanto esperar, seca entre as rugas fatigadas dos rostos de todos. Nasce sobre o cansaço um homenzinho verde estacado no farol mais baixo, que habita agora inerte o espaço circular que deveria habitar sempre que sou eu o pedestre. Os passos ligeiros pisam como poeira leve o piche levemente derretido do desenrolar da rua quente e se levam ao destino que há do outro lado da rua. Os compromissos estão de fato cada vez mais próximos de acontecer, as reuniões, encontros, o trabalho, a doce volta para o lar.
Cada acaso supre os vãos contidos na memória, cada sinal vermelho é consequente dos atrasos, cada semáforo, a espera perpétua pelo reinicio de uma rua, pela segurança do próximo, pela ronco dos motores.
Tinha em mente cores, agora se revolvem como dançarinos extasiados.
Tinha em mente cores, agora se revolvem como dançarinos extasiados.
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