11 de novembro de 2009

semáforo


O meu corpo repousa sobre a quina pontiaguda da banca de jornais. O farol fechado permite que a velha que avisto longe caminhe até que supostamente esperássemos abrir o mesmo semáforo. O verde dos pedestres visa que em poucos segundos abandonemos a margem do lado que saímos para cumprirmos o objetivo de atravessar a rua. O amarelo ao meu ver nunca visou nada. O vermelho é um teste aos motoristas que ruborizam as faces de calor e impaciencia. A rua ocupa, de forma transversal, o mesmo que ocupariam 3 carros de porte médio enfileirados, ou de quinze a dez passos curtos de um jovem. As riscas da faixa de pedestres bem nítidas, recentemente repintadas, o contrario do grande ferro enferrujado, que da base a toda estrutura do semáforo.

O farol sorve o tempo que sorve o suor que de tanto esperar, seca entre as rugas fatigadas dos rostos de todos. Nasce sobre o cansaço um homenzinho verde estacado no farol mais baixo, que habita agora inerte o espaço circular que deveria habitar sempre que sou eu o pedestre. Os passos ligeiros pisam como poeira leve o piche levemente derretido do desenrolar da rua quente e se levam ao destino que há do outro lado da rua. Os compromissos estão de fato cada vez mais próximos de acontecer, as reuniões, encontros, o trabalho, a doce volta para o lar.

Cada acaso supre os vãos contidos na memória, cada sinal vermelho é consequente dos atrasos, cada semáforo, a espera perpétua pelo reinicio de uma rua, pela segurança do próximo, pela ronco dos motores.

Tinha em mente cores, agora se revolvem como dançarinos extasiados.



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