30 de outubro de 2009

Empíreo


Esse amor vem das estrelas que o poente traz aonde quer que vá.

Seja lá o endereço ou a eternidade que esteja, sejam lá as barbas brancas ou galáxias que se encontrem perdidas, as estrelas vertem a harmonia pelo céu límpido de um campo em plena primavera.

Inefáveis...

27 de outubro de 2009

Garnel

Assumo. Garnel é forte e cor de tronco, é um incerto de ombros largos, canalha da cidade.

Tua pele escura atravessa a rua, se apoiando bem precisa nas quinas da velha banca de jornal. Lúcido, volúpio e preso em artes que ninguém contempla, Garnel soluça o restante da cachaça que acariciava tua tristeza interminável. As veias pulsam o erotismo de um poeta bêbado, moribundo das moçoilas virgens, adúlteras, coroas, qual seja a classificação, basta ser moça.

Credo! - Dizem algumas - No fundo gostam de teu forte peito liso ao vento, transbordando tua masculinidade fictícia e seu sorriso meigo. Um pobre amante das palavras, gênio delas.
Garnel é como um faisão, tirando as cores e o penteado.

26 de outubro de 2009

à dois





-Garganelli, por favor. - A donzela afirma e sorri, já convicta de sua escolha.

Éramos dois perdidos em meio ao imenso espaço do restaurante, perdidos na dimensão do silencio tímido de um primeiro encontro. A luz tênue da lua se deixava levar por negras nuvens que acompanhavam a noite em sua esbelta juventude das 21:00 hrs, causando a perda de claridade do ambiente aconchegante que há dias esperava reservado. Já o garçom, flertava uma jovem ao carregar nosso pedido para o cozinheiro. Nem um cão seria tão insensível.

A impaciência era o nosso ponto comum, e rapidamente fora acobertada por leves doses de vinho que enfim desenrolaram nossas línguas acanhadas e propiciaram a nós uma longa e distinta conversa romântica. Dei-a, a conversa, por vencida, quando em teus olhos vi canções e florestas, vi as areias do mar, vi um sino que soava sutilmente enquanto teus lábios secos movimentavam junto a tua fala. Seus olhos são as suas idéias e desejos, expostas pelo curto caminho entre eles, os nossos olhos. Era incrível, a harmonia de tons purpúreos que exibia teu corpo antigamente esmorecido com a decoração do espaço a nossa volta, parecia estagnar a todos, inclusive a Lua. Ninguém além de mim fazia idéia do que luzia de tua mente naquela mesa tão pequena, naquele restaurante tão grande, naquele encontro tão distinto. Eras a estrela daquela noite, e também de algum futuro alvorecer juntos. Foste desde sempre o estribílio de meus sambas, a sepultura despojada que sonho me eternizar.

Nasceste da conversa a aproximação. De início eram as mãos que entrelaçavam-se como num protesto místico e viviam o suor uma da outra, as suas eram finas como o próprio corpo, modelado e esculpido para perfeição, como um templo para os doentes. Paramos mesmo no início, sem mais. Ofegante, esbarrei nos talheres plúmbeos que aguardavam, como eu, o prato desejável que o velho chef preparava à sua equipe.

Agora o escuro céu das 21:40 hrs era mais denso que anteriormente, os astros brilhavam num coral de enamorados. Eu, cavaleiro dos anjos, último vivente da noite, vizinho do desejo, e sobrevivente da longa conversa à dois, madrugava no ruído das tuas garfadas e das minhas, suspirava no silencio de tua voz e na louca fantasia dos apaixonados.

Era tudo uma coisa só, a brisa, talheres, o ronco dos carros do lado de fora, o trio, os nossos corações.


19 de outubro de 2009

Letreiro


E nem mesmo os segundos, que, velozes como um carro desembestado, passam exatos.
Nem mesmo as abelhas ou formigas, as retinas ou os pontos de vista.
Serei eu, exato como uma régua lascada.
Os dias passam. Passam-se dias.

Passam-se horas, desgraças, filhotes, cheques, cartões, amores, dinheiro, felinos, moletons, contatos.
Passam-se vidas desgraçadas por amores, por dinheiro. Filhotes desgraçados por felinos. Cheques desgraçados pelas horas. O passar desgraçando os moletons.
Passa-se roupas.

17 de outubro de 2009

script


Preso no sonho de ser o elenco de teu longo espetáculo, de interpretar o romance dos teus olhares, de viver o enredo fictício que passa ao longo da peça em que você é você, sóbria, bruta, gentil e tímida, como um gato criado nas ruas da cidade.


13 de outubro de 2009

Verdade






Será que um dia poderei dizer verdades como quem descreve o clima - hoje as tênues nuvens chuvosas conquistam espaço no verão - convicto como a quem afirma sede ou fome, como a quem idolatra imagens e estatuetas esculpidas por homens. A verdade por ser abstrata, é ampla como um mar de espécies que desabrocha em cada opinião e pessoa diferente.

A verdade idealizada é a menos oprimida, vendo pelos aspectos de que é ideal, sendo para cada um, uma, é a verdade dos sonhos, dos anseios, dos desejos. A verdade natural segue o ciclo da vida, é o tempo e o espaço em que vivemos, considerando os feitos nefastos do homem na terra e o açoito na história que se passa. A verdade formal é a simples ausência da mentira, e seu oposto é a desavença de fatos que ocorreram realmente, com fatos repassados mais algumas orações, pontos e vírgulas acrescentados. E a verdade religiosa, que baseia-se em fé, pergaminhos e medo.

Acabarei por descobrir que não existe verdade se contarmos com a humanidade tão cheia de alma, pois, em cada realidade há uma verdade diferente ou relacionada, há diferentes hipóteses sobre acontecimentos, versões diferenciadas para tudo que existe. A verdade é o sorriso oculto nos lábios de uma alegria difusa, é o encanto pelos inexatos do universo, é o universo que caminha rente ao ser humano.

12 de outubro de 2009

Reunião


De amigos entre idéias, de idéias.
De pernas e cabelos, cabeças.
De fatos e de histórias, inexato.

Fadas, ouro, cyborgs.

8 de outubro de 2009

Sorria



"Não obstante ao brilho do sucesso, sorria."

Os dentes amarelados sobrepostos um ao outro, lábios esticados ao máximo, músculos faciais assim como os lábios, a falta de ar e a mão que estapeia a coxa repetidas vezes. Nada subverte nada, há uma relação organizada de amizade entre elementos do sorriso.

Repare no vento, com sua esbelta transparencia, discreto, refrescante. Também sorri. Sorri quando em repetidas vezes reconstrói florestas carregando pólen para todos os lados, reconstroi a floresta que o nefasto homem derrubara sem sorrir. As águas sorriem, nas quebras e quedas, nos lábios dos que buscam refresco e matam a sede, nos bronquios dos que se afogam. O mundo sorri quando a paz pode mudar o final.

O sorriso em suas diversas máscaras é uma canção bem sucedida, fotografa sempre o climax da felicidade, da insegurança, do medo. Quando sorrimos, é certo que passamos a ser o conteúdo inédito de uma mistura homogênea, junto ao suor frio da mão, do congestionamento ofegante de palavras, dos olhos trêmulos, dependente da espécie do sorriso.

Um sorriso retribuído é como um jogo de espelhos, e quando não retribuído também, porém sem jogo, apenas espelhos vazios e sem imagens para refletir. Um dia sorriremos apenas, e não haverá mais mistérios nem mentiras, e o olhar será trocado pelo sorriso, em todo encanto e sinceridade que há. Cada idéia é um sorriso mal formado em verdade, apaixonante e fosforescente.

- Teus lábios são tão doces, quando nos veremos novamente?
- ... - Dito. Sorrio apenas.






6 de outubro de 2009

Sequóia


Nem com mil de meus abraços te abraço por inteira.

sobre controle

Com humildade, vejo o fim dos poetas, nesse vejo escolas.