30 de novembro de 2009

Bom tempo

Queria te escrever,
descrever.
Te ninar com letras, nada mais.

Vou-me junto aos sons de seu purpúreo lábio.

24 de novembro de 2009

Celeste

Eu morro: enquanto envelheço em saudade, morro.

Os dois, recebendo os raios da noite com os pés na areia do parque, colhendo os flocos da lua que se desfazia em forma de sereno. Anoiteço na pigmentação de teus cabelos, no ensejo de teus lábios. Um verso por movimento. - "Aquilo avermelhado é Marte, perdido entre a claridade das estrelas" - respondo com menos palavras. E o céu se mostrava atrás das árvores gigantes que rodeavam o ambiente. O balanço em nossa dianteira era como balançado pelo invisível e, carregado pelo vento, ainda dançava apesar de ninguém conduzir a valsa.

Respondia sonolenta a cada gracejo da natureza humana, até quando enfim nos aproximamos o necessário, quando o espaço entre dois se sujeitava ao contato e ao quente dos corpos recíprocos. Em silencio, teu amor inventou de repovoar meu coração, uma vez que as mãos calaram-se unidas e que as respirações uniram-se num coral ofegante de narinas. Já sentia o calor de sua nuca com a mão esquerda e o fim próximo da saudade dos teus lábios. E digo:

- O clima condiz, o ambiente condiz, o céu condiz, tua beleza condiz. De fato, tudo condiz em tua presença que condiz com tudo, exceto a amplidão de obstáculos que me atormenta. - A harmonia se desfaz em um quase mudo "boa noite", silenciosamente retribuído e cautelosamente desenrolado durante a quase ideal madrugada.


Só ao teu lado quero desbravar cada curva infinita do espaço sideral...

20 de novembro de 2009

suplemento


Queria viver a metade do que as máscaras nos sugam,
compor como os que enganam sem palavras.

Queria vomitar um fraseado capcioso sem ao menos ressentir.
Queria planejar o mal...

ou desconhecer.




16 de novembro de 2009

Tempestade


E quando a chuva aperta na cidade...

O refúgio é um bar, sem os bêbados ou seus vômitos, sem cartas ou estrondos, apenas splashs que percorrem passo a passo dos pisões acelerados nas poças efêmeras. As goteiras inundam os ombros. Cada gota misturada com o alumínio do telhado furado martiriza com gelo as espinhas à calafríos horripilantes. Cada espaço, uma energia diferente que percorre. Corpos e trovões.

...o tempo decorre a maré dos esgotos.


11 de novembro de 2009

semáforo


O meu corpo repousa sobre a quina pontiaguda da banca de jornais. O farol fechado permite que a velha que avisto longe caminhe até que supostamente esperássemos abrir o mesmo semáforo. O verde dos pedestres visa que em poucos segundos abandonemos a margem do lado que saímos para cumprirmos o objetivo de atravessar a rua. O amarelo ao meu ver nunca visou nada. O vermelho é um teste aos motoristas que ruborizam as faces de calor e impaciencia. A rua ocupa, de forma transversal, o mesmo que ocupariam 3 carros de porte médio enfileirados, ou de quinze a dez passos curtos de um jovem. As riscas da faixa de pedestres bem nítidas, recentemente repintadas, o contrario do grande ferro enferrujado, que da base a toda estrutura do semáforo.

O farol sorve o tempo que sorve o suor que de tanto esperar, seca entre as rugas fatigadas dos rostos de todos. Nasce sobre o cansaço um homenzinho verde estacado no farol mais baixo, que habita agora inerte o espaço circular que deveria habitar sempre que sou eu o pedestre. Os passos ligeiros pisam como poeira leve o piche levemente derretido do desenrolar da rua quente e se levam ao destino que há do outro lado da rua. Os compromissos estão de fato cada vez mais próximos de acontecer, as reuniões, encontros, o trabalho, a doce volta para o lar.

Cada acaso supre os vãos contidos na memória, cada sinal vermelho é consequente dos atrasos, cada semáforo, a espera perpétua pelo reinicio de uma rua, pela segurança do próximo, pela ronco dos motores.

Tinha em mente cores, agora se revolvem como dançarinos extasiados.



9 de novembro de 2009

Porfia

O ônibus deslizava na estrada enquanto muitos surravam-se de alegria em seu interior.

O Sol havia se congelado de baixo de nossos pés, onde os vermes degustam fibra por fibra dos cadáveres já encobertos de terra, causando aquele álgido vento que voraz acerta os rostos que um dia também servirão de pratos prontos. Plácidos, os mortos, serenos. E o sereno debruçava-se como um lençol úmido na terra. A pequena distancia separava-nos como quilometros, o silêncio era a única voz que conversava desesperadamente.

O banco, e seus olhos fixos para o exterior de tudo, para o exterior da janela, reclusos para a vida. Já os meus olhos viviam os momentos de teu reflexo na vidraça embaçada, tentavam decifrar a felicidade e a infelicidade de cada sorriso entreaberto, piedoso, frio.

As luzes remotas das casinhas na beira da estrada se confundiam com teu interior iluminado, enquanto minha testa se franzi nas lembranças do cume dos nossos beijos, que agora vagam pela atmosfera até nos reencontrar.

Tua figura fosforesce em meio a imagem do silencio.

6 de novembro de 2009

pensamento




... Nas quentes tardes da primavera.

É sempre o tempo em seus olhares. E tudo é sempre perdido em teus olhares. Os seus olhares se perdem no tempo. O tempo se perde nos teus olhos. Tende piedade dos encantados, são eles os que choram o mar em que repousas. Sei que és o prenúncio do terrível fim, a luz que atormenta a dor, quem confessa os desprazeres da carne. Mentem os que dizem que não és a morte que a todos envolverá dentre os milênios submersos na ressurreição do salvador.

Se te querem é porque são loucos e, loucos são os que não querem.

4 de novembro de 2009

Flauta


Teu rosto translúcido, distante, presente. Antes melhor sem conhecê-la.

Rouca. As maçãs do rosto feito porcelana queimada, a muralha de dentes em ordem exata, os lábios murchos. A coisa que entre outras me fere o equilíbrio como um bêbado que flutua no espaço. Louca. O mundo vazio que logo viria a surgir com teu olhar indescritível. De inocência desvanecida. E volto ao teu olhar:

Muitos cafés pra tentar desvendá-los, muitos calos de tentar escreve-los, muito desejo sempre que os vejo, e nada. Os impossíveis em teus cabelos que são o tempo quando se unem com o todo. Você é como o arco-íris que desfaz a chuva quando desfaz a infância dos meninos. Teu inteiro se subdivide em parcelas de sensualidade. Apática roedora de corações.

És o maligno quando atenta o puro, implantado na face de uma bela mulher.

2 de novembro de 2009

1 novembro



Ainda vaga em flashes o meu pensamento.

Ternas lembranças concretizadas de um vão numa noite tão quente, em que tua mão era quente, teu sorriso era quente. Em que teu beijo foi tímido.

O meu sono vem vestido de teu rosto desde então.