30 de junho de 2009

cruel

Lunático andarilho passeia sobre um vão. De um lado o vórtex que o levaria a algum lugar além de qualquer outro, e do outro lado, o mesmo vórtex, porém, irreal. O caminho de céu estrelado e de fim infinito tem seu fim, que é ser infinito enquanto exista. Passeio com o fim óbvio de adquirir conhecimento. Lado direito do vórtex. O fim seria a chance de abandonar os imperdoáveis erros do decorrer do caminho.

O caminho qualquer, infestado de nada além de um poço. Poço fundo e de fim, ao contrário do já explicado, concreto. Posso tocar-lhe os dedos em seu fundo melado e banhado de musgo, assim como posso tocar ofegante teus lábios macios com os meus. Lado irreal do vortéx.

27 de junho de 2009

Luas vão passar



Ouvir-lhe as vozes baixas soprarem em meus ouvidos palavras de saudade, dizendo quão cruel fui eu em abandoná-las, mesmo fora de lucidez. Soprar-me junto às palavras o hálito fresco e aromatizado das mais cheirosas ervas existentes. Debruçadas à minha frente, grandes amigas. Grande cego, quase as troquei por outras, sem a menor intenção viva.

Vivo como a neblina tênue que ainda insiste em permanecer em meu jardim, desejada a saída desde a chegada. Sopro como o vento que produz a asa da borboleta quando voa em direção ao léu, imperceptível, inválido. Bebo como os velhos poetas boêmios bebiam em suas noitadas, bebo ao em vez de álcool uma lágrima que vagava pelo espaço.

O tempo é um afeto entre o futuro e hoje que, buscam encontrar-se assim como busco encontrar-te. Impossível, porém, real.

17 de junho de 2009

Amanhã, espero



A maturidade, descuido do infantil, parece finalmente revelar-se em doses de críticas construtivas formadas há pouco. Parece que, enfim, o Sol nasce como Sol e ilumina como tal, as breves recaídas insanas de um jovem amador, deixam de ser recaídas e agora são inéditos fatos de crescimento mental.

Uma paisagem que antes esbanjava fôlego em rios, varava céus à pássaros, abrigava pequenos animais em suas tocas úmidas, agora é um vale sombrio, sem mais ideais felizes que cantarolavam a cada passo, e sim apertos inacabáveis no peito a cada palavra fria ou delicada. Cada tentativa falsa de meigura, cada troca de olhar com fundo agressivo, intelectualismo superficial, até mesmo os sacro-pagãos, contornam a paciência e ela, em fúria, fuzila esses tais com seu fuzil de espadas.

Chovem rosas no jardim de cravos, pintam de preto o antigo rosa, tiram-me a rosa da bússola.

16 de junho de 2009

Quintal do coração




Quem dera se a vida pudesse resumir a dor, seja lá a quantidade, apenas a resumisse. Das chacinas a células cancerosas , do choro a infinitas pedras no rim. Resumisse a dor como se resume a morte, em poucas palavras. Resumisse a dor como se resume o amor, em algumas lágrimas. E aí está a dor novamente, nas lágrimas.

Em cada lágrima derramada está o calor que viera da profunda treva do corpo, está nela além da treva, o céu de liberar a dor em gotas salgadas que transpassam a dor da face quando cruzam-na ligeiras logo após a saída dos olhos. Elas iluminam o rosto com seus túneis aquosos e dilaceram a tristeza em cada gota, em cada fase. Brilham de tão cheias que estão, carregadas de tanta saudade, infelicidade, ausência, depressão, perdas e esperança. Junto ao soluço que vem depressa, sufocando em forma de protesto, matando a quem já está morto e cheio de lágrimas para chorar.

A única certeza dos que choram é que após o choro vem a realidade, após o choro o mundo não pena suas lágrimas escorridas, de certa forma, em vão.
O choro é um belo jardim florido, apesar das circunstâncias. O mal rodeia esse jardim. O mal está no jardim.

9 de junho de 2009

Sobre o futuro



Uma estrada que não se finda nem quando finda o horizonte.

Descansar em braços que lhe entrelaçam a garganta, braços cansados e enrugados, braços banhados de meu próprio sangue, braços íntimos. Nos segundos finais é que a vida passa inteira em flashes, entreaberta e cheia de saudade, de baixo dos olhos da vítima: Um menino correndo com uma pipa colorida, um velho varrendo a rua, a imagem da mãe de costas lavando louça com um avental amarelo e bordado, o cachorro já sem vida sendo enterrado nos pés da maior árvore do quintal, o primeiro violão.

Agora mãos macias acariciam o corpo gelado e gemem de olhos fechados a tristeza de perder eternamente. As lágrimas que escapam das faces vão direto ao encontro do paletó velho que me acompanhará o resto da eternidade. Banham-me de flores, fotos simbólicas, retratos antigos, lagrimas e CDs. Sentem o que é a única certeza da vida.

A mão que apalpava o corpo agora o encaixota, em prantos e juras, desconsolo e descrença. Um feixe de luz penetra pelos vãos da cama dos que dormem sem esperança de acordar, as pálpebras mexem-se levemente e cansadas. A fé ainda brilha nos rostos do lado de fora, podia ver pelo feixe aberto, porém, já era tarde, sepultaram-me sem eu se quer ter morrido. Assim como as pessoas que não amam, porém elas mal percebem.

2 de junho de 2009

Chegada

Enfim amor, eu tanto te esperei
Que esquecia o que de fato é você.
Eu tanto hesitei a tua ausência
Que desistia de te ver pleno em mim.
Já flutuava inescrupuloso amor
Que quando chegou, não cri.
Clamava teu socorro sempre
Imaginando vê-lo cruzar céus, mares
Imaginando seu penoso olhar
Me livrando de meu meio inóspito.

Amor que viajara milhas por mim
Que quando encontrá-la também
Fará que seja assim, não é amor?