26 de fevereiro de 2009

T = 0


Andávamos perdidos em nossas piadas e brincadeiras, que atravessam o silencio tedioso da sala de estar, um filme sangrento roda na tela quadrada e pessoas permanecem estáticas em função do sangue, risadas dispersão a atenção do filme e provoca a ira dos interessados. O orvalho que é levado pelo vento contra a vidraça da entrada principal aparente ser um vulto e nos assusta devido ao filme que nos atordoou e deixou-nos amedrontados.

Um grito de horror penetra em nossos ouvidos, pulamos para trás e pausamos estáticos. Bocas abertas com uma face de desespero permanecem abertas, o copo que estava sobre a mesa fora chutado quando o horror entra em cena, a água pára no ar. O mosquito que nos rodeava está parado sobre a tela da televisão. Os suspiros pós-susto parecem silenciosos e não causam nenhum movimento sequer, o batimento cardíaco acelerado de nossos corações causado pelas supra-renais que liberam a adrenalina em nosso sangue não causam afobamento algum e aquela pausa dramática aparenta ser eterna. O vento álgido passa pela janela aberta e toca nosso corpo, só a natureza pode se mover.

Aposto uma vida que o tempo volta a correr quando a aurora cruzar o escuro da noite e a força do calor do Sol secar o orvalho das pétalas das flores e da árvore que envolve a casa.

O Sol desperta de seu descanso e surge rompendo o filamento da desesperança, os planetas se desalinham e suas órbitas voltam a ser como eram antes. O tempo volta a passar e nós nos sucumbimos a nossos próprios olhares duvidosos e medonhos, a água que estava congelada no ar cai sobre a minha perna esquerda, o mosquito voa em direção a janela e foge de volta para o seu viver, os afobamentos são relativamente vistos nos olhos de cada um, aqueles que participaram desse literal retrato jamais se esquecerão do que aconteceu, afinal, não aconteceu nada.

25 de fevereiro de 2009

Como se fosse a última


No fundo sou o mesmo que era antes, me agulho nos olhos para não enxergar além do amor, desabotôo a camisa do império do amor em desrespeito aquele que me feriu, coloco-me em frente ao súbito sucesso de um fatal próspero labor daquele que planta maldade. Agora me resta a metade exilada do vulto do oprimido, sujeito-me a vaga lembrança de uma parte adorada de mim que fora amputada sem necessidade à machadadas de um machado cego, e anestesiado com uma dose de alguma planta que uma senhora dizia fazer bem para dores como essa.

Semente do amor se esvaece em direção a um terreno não fértil e foge de meu pomar, o vento do alto da montanha toca o meu rosto e me abre a cortina do passado, expõe cada centímetro de nossa história, nosso amor pagão sucumbiu-se ao medo e se deixou levar pela falsa irmandade, o vento dos Alpes se encontra tão forte que sou lançado para baixo e o grito que dou na hora da queda foi lançado pelo vento e chegou aos meus ouvidos quando entro em contato com a terra. O desespero me fez soltar durante a queda a rosa do amor que havia ganhado de um sábio, agora sou um sóbrio vazio e alucinado.

“é sempre bom lembrar, que um copo vazio está cheio de ar”
-Chico Buarque

24 de fevereiro de 2009

Caminho ancião



Manhã de Sol, quilômetros de casa, feriado prolongado, olhos exaustos, reflexão de uma vida em 5 minutos. A vida já vem, ela começa após o carnaval.

Tarde cansativa, ouvir-lhe a voz a sussurrar uma chamada, caminhar desesperadamente em busca de uma partida de futebol com pessoas desconhecidas, passeio a beira-lago-sujo lançando pedras lisas esperando que elas quiquem, estrada inclinada e deserta, repleta de pedras pontiagudas prontas a te ferir, patos que como eu estão à beira do lago marrom, porém dependem do lago para sobreviver, cachorros protegendo seus territórios latindo, procurando em cada agudo de seus corais de latidos que atordoa qualquer um a minha fuga desesperada, que não acontece.

Noite quente, insetos azucrinam o prazer de dormir em paz, destroem a sustância da vontade de dormir, zunem a necessidade de um lugar para se estabilizarem, sugam sangue dos antagonistas da natureza, que somos nós.

Madrugada curiosa, reflexiva e distante. Serenos derramam nas árvores que cobrem a casa os pingos de uma noite que esperou o dia todo para chegar, o pingos se acumulam e escorrem em minha direção, gotas geladas entram em contato com a minha pele quente e provocam um momento êxtase, um momento em que desmaio e paro a pensar.

Desmaiei frente ao espelho, refletiu em minha imagem a imagem de um velho senhor, sofrido. A imagem de um homem que sofreu muito por amor, que sofreu muito por tudo que além do amor atinge todos os corações envelhecidos. O reflexo do velho conversou comigo e me disse que já foi assim como eu, jovem incerto, aprendiz do amor, apaixonado e que crê no futuro, disse que de todas as coisas que tínhamos em comum, a única que não se arrependeu foi crer no futuro, o futuro resgatou em sua história a dama perdida em seus lamentos da juventude. Desgostos que o levaram a velhice precoce, lamentos que borbulhavam lágrimas em seus olhos dentro do espelho, os olhos que refletiam minha imagem tanto pelo olhar quanto pelo espelho. Misteriosamente o velho caminha sentido oposto a mim em direção a uma estrada de terra, e deixa sobre o espelho uma rosa junto a um bilhete:

é cedo para mergulhar em mares de ilusão
é hora de boiar sobre a vida
é tarde para voltar no passado,
o futuro prevalece e resgata o último suspiro da esperança
- Futuro promissor, passado maligno, presente insignificante.”

Deitado, abro os olhos lentamente e inspiro o mais puro ar, percebo que não me encontro mais na noite, e sim na manhã do amanhã, me encontro no futuro próximo de uma mente mais experiente que ontem.
Juro que aquele velho era um profeta embriagado.

19 de fevereiro de 2009

Outono inóspito




Voam pétalas de rosa que eram minhas
Se esvaem em direção ao breu
percorrem arranha-céus, cruzam construções e viadutos
buscam o fim que é você, o consolo o estável.

Pétalas de rosa cruzam o seu sono e te despertam de um pesadelo assustador, passam pela sacada de sua casa e entram pelo vidro aberto de sua janela, percorrem o caminho que o vento as propõe. Fixam em seu olhar pensativo que trás em seu brilho a incerteza de uma memória falecia. A última lágrima de amor atravessa a sua face álgida e congela no ar. A única pétala restante atropela o caminho da lágrima fazendo-a cair em escombros.

O seu olhar continua o mesmo, reflexivo e divino.
Sempre tão atraente.

18 de fevereiro de 2009

Tecendo o amor



Encurralados entre a incerteza de uma vida crua e o relevante choro da mulher amada, passo a submergir em minhas mais profundas mágoas, para encontrar refúgio em minhas dores. Os mares se espantam quando mergulho e se enfurecem quando me alegro, fomos o mar em maré alta que afoga em suas águas salgadas e puras. Livres de qualquer complexo, mesmo com sequelas intermináveis.

Aulas variadas, um ventilador de parede que gira constantemente, agita o ar de uma sala agitada, questões inúteis são respondidas com calma, explicações complexas são feitas e piadas encobrem o maldito marasmo que há em mim.

Máscaras alcoólatras refugiam o medo de um novo amor, amor que persegue com olhares desconfiados e puros.

A idéia de passear em águas calmas e claras que rastejam em direção aos pés em movimentos de ida e volta, refrescando-nos do calor da noite que envolve além de mim, todos os que pisam em suas areias macias, me trás a vontade de conhecê-la melhor.
Muito melhor.

13 de fevereiro de 2009

Razões e mais razões


São jovens caminhando à luz da lua, ouvindo de mansinho o leve toque de seus corações acelerados que palpitam o calor de uma noite fria, é imprescindível fugir de seu consolo, tentamos escapar das águas escaldantes da ilusão que queimam nossas vidas como brasa viva pulando na furiosa fogueira do amor, brasa escaldante pula do seu fogo e cai em minha mão, traz-me o ardor que sara com o tempo, e deixa em minha mão deformada a cicatriz, conseqüência do amor. Trago a palma tão marcada das lembranças, consequências da tragada das negras fumaças da fogueira que me queimou a mão, consequência de ouvir o insensível, de acreditar no presente. Deixa-me ver, com meus olhos inquietos e amantes, deixa-me ver, o horóscopo do nosso amor para me livrar dessa dúvida irritante.

Por mais duvidoso que seja o horóscopo disse que ficaríamos juntos, disse que o futuro guarda toda a felicidade que em nossos poucos encontros existiu. Acredite no futuro em nome de tudo que é passado, embarque na lotação sem pressa de sair, espere a estação derradeira para descer, jamais perderá o lugar se não quiser. Você sabe que o tempo vira, e o tempo virou.

A chuva de verão que serviria para refrescar-nos, destrói as colunas de nosso edifício, lança contra nós a fúria da ventania que traz com sigo um tronco despedaçado que carrega tudo que há em sua volta. Lançou-nos a milhas de distancia, uma explosão de luzes nos cegou e agora temos de nos encontrar novamente, cegos e alucinados da explosão.

São desafios que nos fazem crescer,
São conquistas que nos fazem poder.
Podem preparar milhões de festas ao luar,
Que esse é só o começo do caminhar.

6 de fevereiro de 2009

Êxito alado


Juramos ser somente seres, juramos ser somente amantes, somos a sombra de uma alma que sussurra socorro e queima em seu fogo escaldante. A chuva dessa tarde me fez lembrar você, a chuva que cai e oscila como as lágrimas de amor perdidas nos olhos meus, o alarido de gemidos perdidos em vão, mas, nada é em vão quando consta nos dogmas que um dia serás o meu amor. Anseio tê-la, anelo seus olhos morenos e ambiciosos fronte a mim, sua face cor da pluma, seus lábios aquecem o mais álgido coração.

Enlace meu silêncio, valse comigo, tal paixão ilusória trouxe-me a esperança. Abraço o mar, busco pra você em seu oceano do amor o mais profundo alado, para que possamos nos ausentar junto às estrelas, estrelas que ofuscam toda a beleza que há em ti. Céus envenenados sopram você, árvores ao léu brotam você, acordes jogados cantam você, tudo que sou, escrevo, ou toco, é você.

Vejo-a caminhar à noturno beira-mar, sinto a brisa de areia em meus olhos, pétalas de rosa lançadas pelo vento cruzam meu caminho. Enlaço-te e você me nega, juro eterno amor e você ignora, sinto-me como um cão que após desprezo chora. Lufadas carregam seu aroma até mim, me prosto frente ao criador e juro que teu é o meu amor.

A nobre lua se enaltece com honra e serventia, lua de prata que ilumina os amores perdidos, lua que carrega em si toda a sabedoria, lua traidora não me disse que a dor do amor é como a dor da fisgada de um membro perdido, a dor do seu amor é desejar o que não há, a dor do amor consta em te amar.

Jura para mim lua.
Jura para mim mar.
Que em todos os desvarios da vida dela
um desses é me amar.

5 de fevereiro de 2009

Penas à alto-mar


Farsantes interpretam discórdia, com pura e completa glória vencem o que é como a cigana, rouba do sonso, resgata o ladrão. Ciganas são mal interpretadas, tanto as defendo como critico, levam uma vida lastimável e anelam o sangue do cálice.

Fatal dama da cidade
deixa de canto a tua vaidade
e ouça tudo que toco,
pois tudo que toco fala de ti.

Serenos,
Oblíquos,
Céus Jazzísticos,
Envenenam a noite que avança a fundo no mar.

Caminhas sobre a areia da praia.
Fecha os olhos e olha para mim
leva-me até o fim.
Sou a sua escuridão, o seu medo, seu distúrbio.

À surdina calada noturna
te concedo vivas e desejo sorte.
Desprendo minhas asas da visão
e vôo em direção a morte.