30 de setembro de 2009

A vida em folhas


Vestida de um veludo verde respingado de um orvalho fino que o faz brilhar, cercada de vizinhas flores que também brilhantes cantam teu louvor.

"Além de tudo estão as árvores, ilustre condomínio de pássaros, morada viva dos insetos, cidade dos fungos, apoio dos cansados, balanço dos macacos..."

29 de setembro de 2009

Apagado





Como a quem abraça o
mar.
Como um viajante perdido nas noites do deserto.



28 de setembro de 2009

Miragem



Se horas em uma longa fila do banco são minutos quando te tenho por perto, pense então no amor eterno. Se é que há o eterno quando o tema é amor, quando a criminalidade cresce a cada esquina e cruzamento, sendo assim mais fácil que se roube corações, ainda mais os abandonados. O subseqüente do abandono é talvez o livre, pois livres são os que se perdem no labor do amor.

Haja talvez um laboratório para isso, talvez teses, pesquisas não concretas ou já conclusas, haja talvez razão para se deixar lacerar o músculo cardíaco em finas fatias, distribuídas como bacon para a eternidade prometida em cada paixão verdadeira. Porém, é paixão, termo passageiro de prenúncio sofrido.

Se o tempo é o ocaso do dia, a eternidade é a meia-noite, que carrega o início, a aurora, distribuída em luzes tão fortes que, quando o tempo nulo surgir como poente, essas luzes resistirão ao breu e iluminarão o espaço percorrido até um beijo, esse sim será eterno.






21 de setembro de 2009

Agora chove



Agora chove:
Pequenas gotas derretidas de gelo, caindo direto contra as folhas e a terra do quintal.

Agora chove:
O que ontem não choveu e anteontem deixou de sobra.
Ainda chove:
O rascunho do que o céu tem pra passar.
Chove fraco:
O cansaço do tormento frio que vem de cima.
Chove mais:
E mais, até que um dia pare de existir quem da a vida.
Chove vida:
Em doses precisas de água, de tédio, de inverno, de amor.
E mais nada além de chuva:
e chuva, e chuva, e chuva, e pouco do raro amanhecer do Sol.
Pois chove:
sem a permissão de ninguém, sem a gratidão de ninguém, sem que ninguém assista atencioso o espetáculo que há nas gotas da chuva, no brilho da chuva, no som da chuva, e na chuva, em seu total e explícito excesso de loucura.


17 de setembro de 2009

bela



O fardo pesado de um ontem composto de todo o passado ardente
O receio de acordar em um mundo incolor
A vontade de acordar vivo no sonho que só teus olhos transmitem.

A vontade de não acordar dos sonhos que te sonho linda, que sonho tua voz a palpitar minha cabeça e a falar meu coração.
Sonho de belo além de ti, nada, pois nada existe.

15 de setembro de 2009

do Olhar

Depois de sentir teu aroma descontraído de morango, ou prender-me em tuas ternas linhas de pensamento, corro em direção aos teus olhos escuros, teus olhos de breu noturno, de imenso desejo e saudade.

Perco-me ao olhar fundo os teus olhos fundos, e me encontro quando vejo-os brilhar. E quando as janelas abertas de tua memória desvanecida dão espaço para lembrar de minhas palavras iludidas em prazer.

Conheço cada dobra invisível de tua retina e cada cílio que se vai ao vento.

Tudo que não era ela se desvaneceu

hipóteses


Distraído e distante devido aos estudos e teses que completo a cada manhã, que completo a cada riso, e que completo a cada desvario que sempre nos rodeia enquanto perambulamos pelas calçadas coloridas da cidade.

De que adianta fechar os olhos se não for para descansá-los de tua face?
Ou sobrevoar no escuro o teu corpo desnivelado e curvo.

7 de setembro de 2009

sonhos


A sombra do idílio adormecida e estagnada pelos carrosséis de teu parque de aversões.

4 de setembro de 2009

Tua falta VIV




Há de solver o Sol quem sabe a Lua
já sem luz e sem o cinza que consome.
Há de pensar e viver o indiscreto que
transborda em teus lábios e olhos d’água.

As noites hão de voar pelos compassos avulsos
das canções que entoam ao teu nome.
E enfim render-me aos deleitos de tua alma
fria e opaca, traída, que murmura desejo.

Onde mas repouso puro fora de teu sorriso?
Além de quando inspiro o teu odor de flor e
sugo as pétalas rosadas como a maçã de teu rosto.

Não só pelas ruas perdidas em tua pele branca ou
pelas descobertas que faço sempre em teu olhar
mas, pelo vil que reside na falta da tua presença.

1 de setembro de 2009

Faz Nouveau



A moldura suspensa na parede branca de minha memória, o ambiente úmido da sala vazia. Os detalhes de flor desenhados no contorno brilhante da arte, como os arcos e elásticos que prendem cabelos esvoaçados ao vento. O surreal de uma imagem abstrata retratada em um quadro vazio.

Os rabiscos contornam um par de mãos centralizado, oposto a um feixe reluzente de luz que explode riscas perfeitamente postas para todo o retrato. Das mãos seguem braços em forma de uma gaivota, completando o tronco de duas pessoas que parecem seguir para lugar algum, juntos. Os cabelos da mulher caem sobre o pescoço, divididos em dois tons diferentes, devido a luz que vomita sombras por todo o complexo de fim de tarde. O desenho do homem segue, e diferente da mulher, o rosto está virado de perfil e a pele se desfaz como a areia em que pisam os pés que acabam de se formar.

Posta a fúlgida linha do horizonte, impõe-se a ordem de plantar árvores no interior do quadro. São três delas, distantes como quem acaba de brigar, no extremo leste e extremo oeste, e uma centralizada na parte superior, causando uma sombra sobre o enlace dos dedos das mãos do par. As árvores são como as pessoas, porém, inclinadas sempre apontando o centro do quadro, com folhas em forma de grandes serpentinas que debruçam o verde sobre o tronco incolor. As nuvens brancas tomam espaço pelo infinito da pintura que se vai além do que vaga pela minha imaginação, e habitam grande parte superior da linha do horizonte. Agora se completa o quadro apenas com os detalhes finais.

Vivo. O quadro construído enquanto suspirava por conta do motivo que me fizera imaginar o quadro, está vivo. Pássaros surgem flutuando como esboços velozes, e somem do papel, o vento vai levando a areia da face do homem, que se desfaz de forma rápida. O corpo, contagiado pela vontade de sobreviver, tenta segurar os restos que se misturam com o chão. E o vento leva tudo embora.

O último pouco de areia que ainda tem forma de mãos, solidifica-se e toca meus olhos reais, se finda a espera pelo ônibus e o vento que lhe trouxe, também trouxe um cisco que de encontro com meus olhos abertos, acordou-me das imagens que crio de nós dois, quando penso que apesar de tudo, a pena cobrirá a tristeza que obviamente me invadirá eternamente por nunca te ter.