30 de março de 2009

Por enquanto



A vida chega, só pra zombar de meu fracasso.

Estou amarrado em uma árvore, cinco homens vestidos de morte insistem em me atormentar mortalmente, uma veloz flecha acertou teus pés enquanto você fugia, está caída no chão esperando que eles cheguem até você para amarrá-la também. Eles chegam e te seguram, não te amarram como fizeram a mim.

Lá se vão os cinco homens e você, sendo cruelmente carregada à força, destruo as cordas que me prendiam e desesperadamente procuro-a, já é tarde. Já não sentia no ar o seu aroma, você se encontrava distante, mais distante do que sempre esteve. O vento já era tênue, as nuvens escuras, as árvores sem vida, o mundo sem cor. Tudo era pacato e silencioso enquanto eu tentava encontrar em meio aos versos algo que me lembrasse o teu amor, o tempo passa mais lentamente, as aves desistem de migrar, o sono é eterno e o sonho já não há. Perco-te de vez.

24 de março de 2009

Cara ou coroa?

Aqui jaz o dia, que libertou-nos da escuridão, foi-se sem deixar marcas, apenas desapareceu.

LADO A
O céu está ficando negro, surgem nele aves meigas, nobres, leves e flutuantes, afastam-se de meu horizonte como um gesto de respeito. Crianças correm em um parque e tomam sorvetes enquanto seus pais os observam conversando entre si. Uma moça bonita passa por mim, cheirosa, sedutora e acompanhada de outras moças bonitas. Junto moedas para comprar uma bebida, após tomar muito dela um clarão é lançado em minha mente e a partir desse instante passo a ver as coisas de duas formas.

LADO B
O dia nos despreza e como única opção temos a noite, que para uns serve para muitas coisas e para pessoas como eu não serve para nada além de sexo e jazz. Nessa noite algumas corujas desgraçadas insistem em visitar o meu telhado, lanço pedras com força e acerto uma delas, as outras fogem enquanto essa lentamente agoniza seus últimos segundos de vida. Miniaturas mal feitas de seus pais correm aos berros um dos outros rompendo o silêncio com risos e lambuzados de sorvete de chocolate, enquanto desocupados conversam entre si esquecendo de seus filhos que esgoelam sem sentido. Um grupo de vadias cheirosas cruza meu caminho, por terem gastado tanto dinheiro com um frasco de perfume são obrigadas a economizar no preço da roupa, talvez por isso usassem roupas tão pequenas. Gasto praticamente todas as minhas economias do mês em algumas doses de álcool, alguns policiais surgem do além a procura de delinquentes quando encontram a mim, me jogam no camburão e começam uma perseguição, um caminhão de farol alto cruza nosso caminho. Um impacto, somente um.
A vida enfim decidiu me largar, e, segundos antes das morte lembro-me das corujas, das crianças, lembro-me das formosas, lembro de como esqueci o amor.

23 de março de 2009

Migração



E quando a madrugada caiu um vento gelado soprou em meu peito, sentia-me trêmulo, meu rosto era pálido, sem direção, embriagado de amor, sóbrio de álcool. Um velho engasgado com a própria saliva tossia feito um cão, e, sentado em um bar á meia-luz era só, um carro parado em frente a uma barbearia de portas fechadas acompanhado de um casal repleto de amor para dar, balançava ao ritmo dos dois e somente um poste de luz iluminava o deserto que era a rua.

Aquele maldito frio já afetava minhas pernas, cada passo naquela rua desnivelada, esburacada e infestada de cães parecia mil. A angústia do regresso se encontrava em meus olhos, e a rua do destino em que eu situava, levava meu caminho a se perder em uma noite tão comum. Queria beijá-la em um vago romance adolescente, tê-la como refúgio e calor, sentir em seus lábios o que já não sinto a muito tempo, o amor. Ah, o amor, tão completo, tão cheio de uma rude cápsula de êxtase que leva ao delírio aquele que toma de si um ou mais comprimidos, é o soro da saudade, uma injeção de perdão, um batimento de coração acelerado e uma agulhada de esquecimento aplicada no peito sem piedade.

Dou meus últimos passos que lentos percorrem um mísero metro. Penso que não poderia estar pior, quando um esquecimento é encontrado em minha mente, lembro que não existe mais o amor, que ele fugira em direção ao Sul em busca de calor, assim como os pássaros, largando-me durante alguns meses de frio, quando mais precisaria dele para me esquentar.

18 de março de 2009

Formas de se fazer mulher



Há uma vontade uniforme de variar as cores do arco-íris.
Há um suco que previne a cólica renal.
Há uma vontade de submergir em uma cachaça de rolha.
Livra-me dessas vontades.

Há uma mulher que originou milhares de mulheres.
Complexada e gorda mulher que se afunda em glicose
Repleta de dobras, falhas e lágrimas. Diz: - preciso perder 13 quilos.
Livra-me dessas mulheres.

Noturna e vadia mulher, que se banha em prazer
Vende-se em troca de momentos de esquecimento
Exauri dos becos, torna-os teu escritório
Livra-me dessas vadias.

Linda e penosa mulher, vaga e ignorante
Seguida de um vago olhar interrogativo, malicioso
Não faz meu tipo, é tão menina.
Livra-me delas, indescritíveis.

Mulher que chora que festeja e cansa
Que perdoa, que é linda por completa
Usufrui do reflexo do Sol para brilhar a música.
Mulher, verdadeira mulher.

17 de março de 2009

Resumo de humanidade



Meu caro amigo, lhe escrevo essa epístola ironicamente, pois tive além de minha manhã uma noite irônica. Pela manhã, testes infelizes que nos angustiam antes e depois de seu resultado, fontes de saber que confundem nossas mentes na tentativa de nos preparar para a vida, líderes capachos de outros líderes e sempre com olhares suspeitos, servos capachos de outros servos que sem autoridade alguma se iludem ao tentar mandar em algo. Precoces antecipam o resultado de uma partida de futebol, vadios resmungam sempre que possível, e, aqueles que não gostam de trabalhar dormem, dormem e fingem que dormem. Sim, falo da escola. Alguém sente orgulho por isso, além do mais, é uma grande escola, livre de qualquer opinião do povo, é uma escola.

A noite fora boa embora tenha começado pela tarde, porém ao pensar que pessoas se escondem atrás de suas malditas e pecaminosas sugestivas proezas que de fato não são proezas e sim posses, tudo torna-se tão irônico novamente. O menino rico se faz de periférico enquanto periféricos fogem de sua dura realidade diária, o trabalho árduo de um menino pobre pode parecer tão malandro para um menino rico, tão pacífico ou tão violento.

É, aquele equilíbrio que nós tanto procuramos, nada a declarar sobre ele. Além do mais atrás de cada dia podemos retirar um elemento de experiência, um fragmento de boa ação da humanidade ou até regredir o pensamento em relação ao mundo, ou em relação a pessoas que nele habitam. Porém nada disso aconteceu.

Entende que meus antigos textos falavam explicitamente de amor e agora proso amor em segundo plano?Ah, o amor, elemento diário com nutrientes necessários para vivermos bem e suspirarmos a cruel realidade do mundo, porém, observar essa realidade com outros olhos, olhos mais penosos, olhos de amor.


Meu caro, lembro-te em todas as minhas orações
lembra-te de mim em suas.

- Felipe, ou, como desejar.

12 de março de 2009

Caminho ancião II




Dá-me uma noite, só uma noite, meia noite.

Caminhando à passos singelos, flutuo sobre as nuvens inseguro de uma queda repentina, observo os pássaros que passam abaixo de mim e seguem em direção ao Sul, os aviões e suas turbulências, a tempestade que escurece o céu com uma só nuvem, corro em direção do fim da nebulosa e escapo por pouco de seus trovões.

Em meio ao imenso azul do céu estou em uma branca nuvem, que dá para o horizonte, que dá para uma imensa tristeza, que dá para a saudade, que dá para uma melhor visão do oceano, que dá para o amor, e que encontro em meu campo visual um velho sentado, um velho de cor negra e de cabelo grisalho, com pouca barca e bigode que conversa sozinho, chego perto e ele desaparece deixando cair uma rosa e um bilhete, leio o bilhete:

Encontrei a rosa no pé de uma montanha, amassada e sem cor. Creio que é sua.
Rosas de abril...

Este amor seu é como um rio; um rio
Noturno, interminável e tardio
A deslizar macio pelo ermo...

Quando voltar do mar, trará um peixe bom
Melhor que todos que trouxe,
Adeus, Adeus, pescador, não se esqueça de mim
Vou rezar a Deus, a Deus e ao mar
Pra não ter tempo ruim.
-
Futuro promissor, passado maligno, presente insignificante.

Ela escapa de minha mão e fere o ar corrompendo-se e desfazendo-se durante a queda, são milhas de queda, são milhas para o esquecimento. Despedaça-se no mar.

Rosas de outono.

9 de março de 2009

Soneto da vida



Que a vida seja uma aventura errante
Seja como não poder partir, nunca mais
Como surrar um jovem ofegante
E como em prantos abandonar o cais.

Como criar um samba a se vingar,
Das órbitas dos pensamentos da pátria.
Oh vasta pátria, me ama em seu mar
Amada pátria, que eu canto o teu mar.

Ela, a vida, volta como um súbito suspiro
Que corrói e devasta a amada mentira
Depravados e iludidos amantes do delírio.

A mentira não se difere do delírio
Como a vida não se difere da morte.
Então vida, sacrifica-se, só por curiosidade.

5 de março de 2009

Todo amor vem do luar.


Carrego o céu em meu ombro
Para não me afastar de Ti.
Teu céu noturno cheio de brilho
Tudo isso pertence a mim.

Enche teu céu de estrelas
Gosta de me ver sofrer

Pra me provocar
Só pra me provocar...

Céu urbano
Céu praiano
Agora é Sol
Deu-me uma peneira pra me proteger.

Pra me provocar
Só pra me provocar...

Sujeito-me a quentes provocações
Não consigo mais suportar.
Envolva-me mais uma vez
Sussurro: “por toda minha vida vou te amar”.

Tira um lenço de seus seios
e o joga no chão
Enquanto foge
Carrega algo na mão.

Pra me provocar
Só pra me provocar...

E agora. Quem roubou o Luar?
Só pra me provocar...

4 de março de 2009

Veio pra libertar?



No fim de uma longa manhã, um Sol infernal esquenta meus pés descalços que pisam sobre o crespo asfalto da rua. Já está escurecendo, o Sol se despede e deixa um presente, uma melancólica nuvem nebulosa cruza os céus, uma nuvem negra como a noite penetra na escuridão do fim do dia e causa uma neblina tênue no chão do quintal, a noite se torna tão densa que a pouco a nebulosa nuvem se perde no noturno céu. Cego pela noite, inseguro pela nuvem e gelado pela neblina, não sei se haverá manifestação ou se a noite é só mais um de seus planos, mas, sei que nuvem sempre estará a nos rodear, sempre.

3 de março de 2009

a voz do povo não é de Deus





― Faço isso por mim mesmo, ninguém mais ― digo, esbanjando orgulho.
― Faz o que? ― responde alguém.
―Toda essa busca infame do homem atrás de uma conduta ética religiosa provoca-me lamento, afinal:

Enquanto escrevo esse texto inúmeros seres humanos morrem, e, em sua maioria não morrem por fatos naturais e sim são assassinados. Em nossas cabeças a arte de se fazer feliz está imersa em nossa crença absoluta e obsessiva em relação ao Monte Olímpus individual de cada um.

Lá de cima das nuvens observo os homens, é tudo tão revelante e sem sentido, são pontos que caminham, uns maiores outros menores, pontos que param em frente a uma caixa que ofusca uma sequência de cores mutável e ficam horas dessa forma, pontos param em frente a estátua de outros pontos e prostam-se em busca de ser um ponto mais feliz, pontos em grupo prestam atenção enquanto outro ponto declara algo.

Observados pelas nuvens somos todos iguais, apenas pontos que agem de forma diferente e corrosiva em relação a outros pontos, preconceituosos por sermos iguais, infantis em suas diferentes atitudes de ponto. Todas as seitas possuem um fundo realista, ela só depende de seu ponto de vista. Sigo a filosofia de vida das três cores quentes por ser relaxado e calmo? Caminho junto aos orixás por cantar músicas folclóricas que servem de louvor a eles? Sou um fiel apenas por ir à igreja? Sirvo a Lúcifer por decepcionar a Deus ou sair de seus átrios em minhas insanas recaídas humanas?

Liberte-se de sua opulência, desaferre-se do desnecessário e esquive dos entraves. Deixe de usar saia, isso não afetará seu espírito, lance bobeiras ao ar e curta a vida, essas são as coisas simples. Só não esqueça, se beber não diriga.

2 de março de 2009

Soneto de um amor perpétuo




Já não amo mais a lua nem o sublime do mar
Nem o perfume das flores a nos perfumar.
Além dos cometas que cruzam em luz
O contorno de teu corpo que me seduz.

Enfim, depois de me ausentar do amor
Crio peças em memória do amor que não houve
Desprezo meu ego, vassalo do amor sincero
Prezo seu amor que tem sido tão severo

Amor diferente, como o canto do sabiá
Que os que cantam aqui,
Não cantam igual em nenhum outro lugar.

E então, o vento trará em seu sopro ardido
Todo singelo amor que em vidas fora perdido
Venha morte, concretiza o epílogo de meu sofrer.