9 de novembro de 2009

Porfia

O ônibus deslizava na estrada enquanto muitos surravam-se de alegria em seu interior.

O Sol havia se congelado de baixo de nossos pés, onde os vermes degustam fibra por fibra dos cadáveres já encobertos de terra, causando aquele álgido vento que voraz acerta os rostos que um dia também servirão de pratos prontos. Plácidos, os mortos, serenos. E o sereno debruçava-se como um lençol úmido na terra. A pequena distancia separava-nos como quilometros, o silêncio era a única voz que conversava desesperadamente.

O banco, e seus olhos fixos para o exterior de tudo, para o exterior da janela, reclusos para a vida. Já os meus olhos viviam os momentos de teu reflexo na vidraça embaçada, tentavam decifrar a felicidade e a infelicidade de cada sorriso entreaberto, piedoso, frio.

As luzes remotas das casinhas na beira da estrada se confundiam com teu interior iluminado, enquanto minha testa se franzi nas lembranças do cume dos nossos beijos, que agora vagam pela atmosfera até nos reencontrar.

Tua figura fosforesce em meio a imagem do silencio.

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