31 de janeiro de 2010

Repito

Repito: nesse ambiente e estado não repito nada além de bufas. .... -bufas-
E as bufas são inteligentes variações íntimas de rumores, que se escondem atrás de ar, e de ar faz-se esse som opaco e sínico.
[A repetição varia. Em vezes]

Espero que tudo se torne um espasmo criativo expectorado dos brônquios.

29 de janeiro de 2010

complexo

Não beijá-la apenas, mas olha-la em penca. Cristalizar teus olhos no mais alto brilho que oferece o céu que é o teu refúgio. Me focar no olhar de quando filma o horizonte a nossa volta.

Teus pezinhos, coitados, cobiçados pelos cem da centopéia, são mais belos até em pegadas. Mantém-se extática nos olhos e nos teus olhos me extasio.
Não há explicação humana.

27 de janeiro de 2010

Quase maior

Outros dias virão e os janeiros farão de foices, doces gomas de mascar.
A paciência será petrificada e dela surgirão arranha-céus.
As estrelas de uma noite tornarão o Sol do que segue.
Tudo habitará na dúplice primavera dos amantes.
Um só coro esparge as letras de teu nome, um adeus encoberto de névoa, povoado pela súplica da terra.
-Feliz aniversário, melhor dizendo.

Viver nas criaturas secretas do teu beijo.



22 de janeiro de 2010

Morticínio

O Sol que estertora e ilumina os becos não mais escuros, ilumina os vendedores de mandioca que são como pernilongos no verão e as mandiocas, o sangue humano . E acrescento que: o sonho do Sol era não brilhar, e que em apenas diferentes átimos liberasse um feixe de luz difusa para o centro da Terra.

O sol para nós é como uma árvore para uma formiga, e para a árvore o sol é o mesmo sol que o nosso. Para o universo não passa de mais um astro em chamas.

Tudo varia em proporções.


21 de janeiro de 2010

Rua de cristal

É desnecessário reproduzir a paisagem neste arabesco, porém, inevitável não dizer que aqui o Sol jaziu tarde e assim mesmo as noites são longas como as tardes no deserto. Uma ave vermelha, típica de nossas matas, está sempre à espreita com seu corpo inerte de madeira podre. Nada mais importa exceto minhas discordâncias.

É tão vago saber que entre inúmeros nomes, o escolhido fora "Rua de cristal", sendo que mesmo bela, a rua não se equipara à altura. É feita de pedras despojadas que arranham pés, rodas, patas. Os cristais feitos de qualquer algo sólido e cristalino que luza em todos os ângulos, sem lascas ou imperfeições. A única comparação aceita seriam os olhos, ainda que muitas vezes imperfeitos, mentirosos, sonolentos, sendo os maiores representantes de nossas mentes uniformes.

Talvez então, cristal fora o nome de uma moça envolta pela morte, que significou de fato muito para a construção da velha rua. Quem sabe cristal seja uma metáfora criada para substituir "cinzas" dessa moça que não necessariamente mais deveria se chamar cristal. Ou cinzas das casinhas e das crianças que queimadas em seus leitos, gemiam sobre as chamas ardentes de algum crime culposo, intencional, ou morriam aos pés de um simples desastre natural.

Uma rua de cristal seria um despudor para as vistas, seria com toda a certeza a rua em que menos roubariam jóias das madames e sim, roubariam grandes lascas do chão da rua. Seria um longínquo e retilíneo ermo. Inabitável. Cada azulejo valeria o infinito e nela morariam deuses ou semi, desses falsos deuses. Os carros deslizariam como deslizam patinadores em treinamento, desordenados e incontroláveis.

Enfim, a madrugada agora cai silenciosamente em cada casa da rua, que por muitos motivos não deveria receber o complemento "de cristal" e sim seguir sozinha com seu primeiro nome. Gramado brilhante reflete o lume das luzes numa noite como tal, que banha seus viventes com frias gotas de cristal.

19 de janeiro de 2010

noites mal dormidas



O que os astros te disseram quando, afoita, cristalizou todo o espaço?
O que te sussurraram os peixes quando submersa no pélago?
O que cantaram as aves no céu em teus louvores?
Te juravam, cantavam vivas, te elogiavam, eram rumores?
Rumores que idealizam teus encantos, que contentam os teus lábios, que aprisionam teu amor.

Não perca nunca a soberania dentre as outras, o seu horizonte incalculável de perfeições. Não perca nunca tua embriagante voz, seus dramas efêmeros, seu ar de natureza. Teus cabelos são como uma cascata natural, e de natural tem-se completa, cada filamento de teu corpo. Tem em si fumegantes rosas despetaladas, que exalam o aroma de um campo, és um tênue riacho, onde habitam peixes e as aves se fartam, onde a margem é coberta de árvores, como um guarda-Sol vivo.

Te quero em cada gota de uma chuva, e que dancemos na chuva, com a música que as gotas tocam no teu corpo

16 de janeiro de 2010

soneto fremio

Hoje amor, patina o tempo em mera saudade
mesmo ainda perto, sem que as trevas nos separem.
Hoje penso em ser o que não fui ontem, e que apesar
dos muito apesares, romperei tudo por ti.

Romperei tudo porque muito te amo; sobre e além
dos náufragos em alto mar; dos exaustos viventes;
dos exaustos falecidos; das ladeiras povoadas;
da qualidade ardente de Vinicius.

Te quero pois assim Deus quer, sem refugar.
Apenas quero viver o essência que há em ti,
toda essência dos teus olhos, sem mais.

Seus olhos submergem no oceano quando quietos,
num oceano límpido e álgido, aflito
e cheio de vida: que tanto quero mergulhar.

depois foi só

Quão em vão fora tudo se num longo ermo não pude beijar-te.
A distancia revestia-nos ainda mais com uma couraça inexistente:
de dúvidas.

Quem sabe teu sorriso apenas possa encharcar todo o deserto
se a estrela do amor agora conta as memórias sobre um túmulo.

Perdoe a brisa, por te enganar em silencio.
Perdoe os livros, que te passam segurança.
Perdoe a estrada, que separa em trevas.
Perdoe o mar, por soar sempre bem.
Perdoa-me, por ser um cadáver necrosado de amor

13 de janeiro de 2010

vejo;



na crista das ondas a passagem do ano em forma de espuma, tocando meus pés que tocam a macia areia da praia, desviando o olhar e os passos perdidos. Cada passo, a marca que desenha todo caminho já percorrido, com passos desalinhados e pegadas quase sutis.
A saudade salga onda a onda o meu corpo desalmado, de sujeira, de fetiches, de lembranças.
Meu mar ressoa como apitos de carnaval.

Nos sonhos, passos que ainda nem dei.

10 de janeiro de 2010

outras águas

Um dolorido ataque pancreatico atormenta há dias um alguém que muito importa. Uma ferida entreaberta talvéz, a consequencia de algo digerido. Muitos rumores a respeito de tudo: cirurgias, soros, internação.

Eu agora me vejo no reflexo de um óculos, pirateado sem dúvidas, e tenho que levantar para que as próximidades de meus pés sejam varridas.

De nada adianta os bons elementos que me faziam tão bem - o quente bafo marinha; a compania agradável; a saudade que percorre as minhas veias; a rede no swing do vento -
Se a doença enredou a história em cinzas.

9 de janeiro de 2010

cereal do dia

É tanta onda que, tão baixas resfriam as despidas canelas do povo.

Vejo esfumaçado teu corpo indo de encontro as águas salinas da praia. Teus pés chutando a água cristalina da quina do mar, desnivelando a areia e o tempo. Tua audacia ao deixar as águas, com os pézinhos sujos. As unhas oblongas tentando se desfazer da areia armazenada.

Assim teces minha saudade, como um pássaro tece a linha do horizonte, perdido no litoral, arredio no eterno verde que observo da rede.

2 de janeiro de 2010

frio




Quando quase esqueço de teu rosto, me lembro de teus pés
então recordo de tu'alma, onde busco tudo que busco.

Todavia, atento o infinito à tua beleza,
são as estrelas que só teus olhos vêem.