1 de setembro de 2009

Faz Nouveau



A moldura suspensa na parede branca de minha memória, o ambiente úmido da sala vazia. Os detalhes de flor desenhados no contorno brilhante da arte, como os arcos e elásticos que prendem cabelos esvoaçados ao vento. O surreal de uma imagem abstrata retratada em um quadro vazio.

Os rabiscos contornam um par de mãos centralizado, oposto a um feixe reluzente de luz que explode riscas perfeitamente postas para todo o retrato. Das mãos seguem braços em forma de uma gaivota, completando o tronco de duas pessoas que parecem seguir para lugar algum, juntos. Os cabelos da mulher caem sobre o pescoço, divididos em dois tons diferentes, devido a luz que vomita sombras por todo o complexo de fim de tarde. O desenho do homem segue, e diferente da mulher, o rosto está virado de perfil e a pele se desfaz como a areia em que pisam os pés que acabam de se formar.

Posta a fúlgida linha do horizonte, impõe-se a ordem de plantar árvores no interior do quadro. São três delas, distantes como quem acaba de brigar, no extremo leste e extremo oeste, e uma centralizada na parte superior, causando uma sombra sobre o enlace dos dedos das mãos do par. As árvores são como as pessoas, porém, inclinadas sempre apontando o centro do quadro, com folhas em forma de grandes serpentinas que debruçam o verde sobre o tronco incolor. As nuvens brancas tomam espaço pelo infinito da pintura que se vai além do que vaga pela minha imaginação, e habitam grande parte superior da linha do horizonte. Agora se completa o quadro apenas com os detalhes finais.

Vivo. O quadro construído enquanto suspirava por conta do motivo que me fizera imaginar o quadro, está vivo. Pássaros surgem flutuando como esboços velozes, e somem do papel, o vento vai levando a areia da face do homem, que se desfaz de forma rápida. O corpo, contagiado pela vontade de sobreviver, tenta segurar os restos que se misturam com o chão. E o vento leva tudo embora.

O último pouco de areia que ainda tem forma de mãos, solidifica-se e toca meus olhos reais, se finda a espera pelo ônibus e o vento que lhe trouxe, também trouxe um cisco que de encontro com meus olhos abertos, acordou-me das imagens que crio de nós dois, quando penso que apesar de tudo, a pena cobrirá a tristeza que obviamente me invadirá eternamente por nunca te ter.

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