24 de fevereiro de 2009

Caminho ancião



Manhã de Sol, quilômetros de casa, feriado prolongado, olhos exaustos, reflexão de uma vida em 5 minutos. A vida já vem, ela começa após o carnaval.

Tarde cansativa, ouvir-lhe a voz a sussurrar uma chamada, caminhar desesperadamente em busca de uma partida de futebol com pessoas desconhecidas, passeio a beira-lago-sujo lançando pedras lisas esperando que elas quiquem, estrada inclinada e deserta, repleta de pedras pontiagudas prontas a te ferir, patos que como eu estão à beira do lago marrom, porém dependem do lago para sobreviver, cachorros protegendo seus territórios latindo, procurando em cada agudo de seus corais de latidos que atordoa qualquer um a minha fuga desesperada, que não acontece.

Noite quente, insetos azucrinam o prazer de dormir em paz, destroem a sustância da vontade de dormir, zunem a necessidade de um lugar para se estabilizarem, sugam sangue dos antagonistas da natureza, que somos nós.

Madrugada curiosa, reflexiva e distante. Serenos derramam nas árvores que cobrem a casa os pingos de uma noite que esperou o dia todo para chegar, o pingos se acumulam e escorrem em minha direção, gotas geladas entram em contato com a minha pele quente e provocam um momento êxtase, um momento em que desmaio e paro a pensar.

Desmaiei frente ao espelho, refletiu em minha imagem a imagem de um velho senhor, sofrido. A imagem de um homem que sofreu muito por amor, que sofreu muito por tudo que além do amor atinge todos os corações envelhecidos. O reflexo do velho conversou comigo e me disse que já foi assim como eu, jovem incerto, aprendiz do amor, apaixonado e que crê no futuro, disse que de todas as coisas que tínhamos em comum, a única que não se arrependeu foi crer no futuro, o futuro resgatou em sua história a dama perdida em seus lamentos da juventude. Desgostos que o levaram a velhice precoce, lamentos que borbulhavam lágrimas em seus olhos dentro do espelho, os olhos que refletiam minha imagem tanto pelo olhar quanto pelo espelho. Misteriosamente o velho caminha sentido oposto a mim em direção a uma estrada de terra, e deixa sobre o espelho uma rosa junto a um bilhete:

é cedo para mergulhar em mares de ilusão
é hora de boiar sobre a vida
é tarde para voltar no passado,
o futuro prevalece e resgata o último suspiro da esperança
- Futuro promissor, passado maligno, presente insignificante.”

Deitado, abro os olhos lentamente e inspiro o mais puro ar, percebo que não me encontro mais na noite, e sim na manhã do amanhã, me encontro no futuro próximo de uma mente mais experiente que ontem.
Juro que aquele velho era um profeta embriagado.

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