26 de agosto de 2009

Arco reflexo


O corredor da sala, muito estreito. Um espelho que quando me vejo tenho uma impressão claustrofóbica, rente à parede branca que tem servido, e muito, como condomínio exclusivo para aranhas. A prateleira, posta no topo do cômodo, tornando-se pouco visitada pelos moradores da casa. Ao lado, a luz, com sua força abduzida pela prateleira que bloqueia parte de seu reflexo e sombreia o corredor apertado. E a penteadeira completa por tranqueiras esquecidas em momentos de pressa, com um espelho, sobrepondo parte do outro espelho.

Também há um armário, semelhante à torre de piza, inclinado como um velho carregador de sacos de feijão aposentado, o armário ocupa boa parte da pouca área que resta da passagem. Com quilos e mais quilos de livros impostos à força o armário permanece estável e vasto de lembranças adoráveis dos brinquedos que guardava em seu interior empoeirado e sinistro, como o crânio fictício que vive largado no alto de teu frágil corpo amadeirado.

Cheguei ávido, acelerado, e me deparei a um silêncio intenso e agradável que soava no corredor alérgico de limpeza. E tudo era o pretexto da inigualável dor que seguia naquele episódio, tudo era fato para averiguar se meu pé macio era mergulhado em algum tipo de metal resistente.

Já ofegante, perdi o equilíbrio nós pés da penteadeira e logo mais o encontrei nos braços do estorvo que era o armário, e devido a leve descontração, meu corpo ainda não havia encontrado o real repouso e seguia em frente desenfreado até o outro extremo no armário, quando num opaco som de madeira fina minha raiz nervosa dorsal transpassava veloz a mensagem enviada pelos nervos aos músculos que completariam o arco reflexo.

O universo que girava silencioso, agora é conduzido pela voz que pressupõe maldições sobre o encontro dos meus pés com os do mortífero armário empoeirado.

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