3 de março de 2010

desatinar-se

Quando notei que os cães prestavam silêncio estáticos, resolvi mais do que nunca ver o que era.

Era algo que queimava o asfalto com teus passos fumegantes e secava os lagos com teu calor inigualável. Era algo com lábios e bustos, coração e cabeça, raízes na vida. O mundo orbitava no átimo exato. Todos os homens viveram suas vidas iguais, numa longa fotografia que andava. Viveram o mover dos músculos que cada passo movimentava, viveram a ternura de ver passar.

As mulheres piscavam e tentavam não acreditar que seria possível algo mais nobre que o trigo, algo mais quente que a areia ou mais belo que a música. Cegos sentiam um cheiro de rosa, mudos falavam com a alma, os orgulhosos abraçavam e sorriam e os velhos já perdoavam. O céu estava escuro pois a tua luz perdera o sentido, a vontade, a existência. Nada mais valia se aquilo passava. Tinha o movimento estrelar que superava cometas, um terrestre que superava os flamingos e um marinho mais belo que todo o oceano.

Ao golpe dos últimos passos senti selar um silêncio perpétuo, não havia movimento além da brancura das nuvens, o vento invisível e o aroma de sempre. Quando notei que todos os cães latiam e os homens cantavam, que as mulheres erguiam a pestana numa ardente inveja e o verão esquentava o asfalto. Quando notei um frescor subir pelas narinas, o mesmo frescor, o mesmo âmbar que persegue sem apesares.

O mundo jamais deixou de viver, minha vida é que perde o rumo ao te ver.

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