23 de março de 2009

Migração



E quando a madrugada caiu um vento gelado soprou em meu peito, sentia-me trêmulo, meu rosto era pálido, sem direção, embriagado de amor, sóbrio de álcool. Um velho engasgado com a própria saliva tossia feito um cão, e, sentado em um bar á meia-luz era só, um carro parado em frente a uma barbearia de portas fechadas acompanhado de um casal repleto de amor para dar, balançava ao ritmo dos dois e somente um poste de luz iluminava o deserto que era a rua.

Aquele maldito frio já afetava minhas pernas, cada passo naquela rua desnivelada, esburacada e infestada de cães parecia mil. A angústia do regresso se encontrava em meus olhos, e a rua do destino em que eu situava, levava meu caminho a se perder em uma noite tão comum. Queria beijá-la em um vago romance adolescente, tê-la como refúgio e calor, sentir em seus lábios o que já não sinto a muito tempo, o amor. Ah, o amor, tão completo, tão cheio de uma rude cápsula de êxtase que leva ao delírio aquele que toma de si um ou mais comprimidos, é o soro da saudade, uma injeção de perdão, um batimento de coração acelerado e uma agulhada de esquecimento aplicada no peito sem piedade.

Dou meus últimos passos que lentos percorrem um mísero metro. Penso que não poderia estar pior, quando um esquecimento é encontrado em minha mente, lembro que não existe mais o amor, que ele fugira em direção ao Sul em busca de calor, assim como os pássaros, largando-me durante alguns meses de frio, quando mais precisaria dele para me esquentar.

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